12.28.2010

Duas linhas, um sorriso


7:28 h – Acordei com a cabeça cansada de tão pouco descanso. Já nem consigo completar mais nada. Sinto o meu corpo pesado e além disso sinto remorsos, mesmo que o remorso não seja um sentimento de total arrependimento, na minha alma. A janela do meu quarto está embaciada e ouço o vento, lá fora, e vejo as árvores despidas. As folhas amarelas baloiçam, suavemente, do alto da árvore até caírem cuidadosamente no chão. Os ponteiros do relógio retrocederam uma volta e é por essa mesma razão que ainda está escuro. O céu, não está completamente negro, mas está o suficiente para que a iluminação pública ainda se encontre de luzes acesas.
12:05 h – Não tenho falado com ninguém. Tenho sido uma espécie de larva solitária dentro do casulo, se é que assim me posso descrever. Fecho-me no meu quarto e vejo e revejo todas as fotografias - porque o teu sorriso só as fotos me ajudam a perceber -, leio todas as cartas que me escreveste e que eu própria queria queimar.
12:17 h – A minha mãe preparou o meu prato favorito, para ver se me originava um sorriso. Eu sorrio, com um sorriso esforçado, mas sorrio e agradeço-lhe o esforço e a dedicação que teve em o preparar especialmente para mim. Mas com tanta coisa que ocupa a minha cabeça e eu esqueço-me de ter fome. Já sinto a minha respiração a falhar, sinto-me fraca e sei que o meu músculo da vida já só bate por bater.
15:57 h – Vou fazer a minha mala. Vou levar as coisas essenciais: o coração, a saudade, a vontade de te voltar a ver, a morada da tua localização que desde sempre esteve escrita naquele pedaço de papel completamente amachucado que trocamos naquele dia chuvoso em que nos vimos pela primeira vez, uma vez que naquela altura só nos poderíamos contactar mutuamente através de cartas, levo também a vontade de te abraçar, umas moedas para os gastos da viagem e penso que seja o suficiente para que tudo corre como o esperado. Vou deitar tudo abaixo e construir do zero. Vou bater com a porta e apanhar o último comboio.
18:15 h – Sei que deixei a minha mãe com o coração nas mãos. Vi o ar de angústia no seu olhar medroso. Senti isso quando me abraçou com todo carinho, colocando as suas mãos suaves nas minhas costas, sussurrando-me as palavras mais bonitas no meu ouvido esquerdo. Não alarguei muito a despedida, umas vez que não vou estar fora muito tempo e porque também sei que mais dois minutos e estaria a limpar algumas lágrimas do rosto dela.
18: 27 h – Faltam cerca de 4 minutos para que o último comboio chegue à estação, onde me encontro. Vou entrar mesmo nesse, vai ser ele a levar-me ao meu destino, vai ser ele a levar-me de encontro ao meu sorriso. Não sei se vais lá estar. Não sei se ainda vou ter o teu abraço só para mim. Não sei se (…). Sempre soube que somos o avesso um do outro, iguais por fora, mas opostos por dentro. Vivemos de costas voltadas um para o outro: eu sempre à espera que tu te vires e me abraces e tu sempre à espera que a vida te traga um sinal, te aponte um caminho e escolha por ti o que não és capaz de escolher. Ao contrário de ti eu não espero que a vida faça o meu destino por mim, mas também sei que corro por caminhos errados, mas com fé, sei que ela me vai encontrar, sempre, e levar a um novo começo.
Eu sei que vou descer do comboio e olhar numa direcção incerta, sei que não te vou ver de imediato, aliás nem sei se te vou encontrar. Mas também alimento a esperança de seres tu a ver-me e que nessa altura sinta o calor dos teus braços enroscados ao meu corpo, que nessa altura me volte a sentir pequenina e protegida por ti. E sempre acreditei que irá ser nesse derradeiro momento que irei criar um novo sorriso, não por te ver, mas sim por te voltar a ter.

2 comentários:

Diogo Passos disse...

Escreves tão bem amor *.*

Janne ♥ disse...

♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥