2.09.2011

Se o nosso final não foi feliz, então é porque a nossa história ainda não acabou



Desligo o telefone e ponho a cabeça entre as mãos, literalmente esmagada pela enormidade da situação. Sinto-me demasiado confusa para conseguir descrever a mim própria aquilo que estou a sentir.
O termo comodismo ecoa-me na cabeça, corroendo-me o coração e deixando-me toda a tremer. É uma palavra que eu já ando a evitar há meses, mesmo nos meus mais íntimos pensamentos, mas que subitamente já não consigo evitar. De certo modo, faz-me lembrar o temível e âmago da questão – o medo de eu própria me ter acomodado quando deveria ter procurado incessantemente este tipo de amor. Ou que deveria ter acreditado nele e que num belo dia voltaria para mim?
Sinto-me suspensa no tempo e um tanto desorientada, como por vezes nos sentimos quando acordamos num sítio estranho e nos esquecemos momentaneamente onde estamos. Depois volto a olhar para ele, apercebendo-me subitamente – com grande choque e terror – que esta escolha, que me foi roubada há muitos anos está agora nas minhas mãos. Finalmente. Sem querer, imagino-me como numa bifurcação numa estrada. Duas rodopiantes estradas de terra. Dois sinais presos em árvores retorcidas, apontando em direcções opostas. Para a direita: Novos horizontes. Para a esquerda: Retroceder para o passado e fazer aquilo que não foi feito.
Descruzo os braços, deixando-os cair para os lados. O meu cérebro reproduz lentamente as palavras finais que ele me disse naquela noite. Não se trata do que «poderia ter sido». E não se trata de saber se eu sinto actualmente um amor genuíno por ele, por debaixo desta forte camada de nostalgia, luxúria e sentimentos não correspondidos. Nem sequer se trata dele próprio.
Trata-se do sinal que me indica o caminho do lado esquerdo. Trata-se do que eu realmente sinto agora.
Sinto-o aqui ao meu lado, bem presente e sinto, também, o coração a mil à hora – ouvindo somente metade do que me diz a seguir. Qualquer coisa sobre não me querer perder. Qualquer coisa como ele saber que ainda existe em mim e achar que é pecado não estarmos juntos. E fecha com um « Tenho saudades nossas », o que é bastante mais forte e cativante do que um saudades minhas – sobretudo porque eu sinto exactamente o mesmo. Também sinto saudades nossas. Sempre tive, e provavelmente, sempre terei. Esmagada por uma dor insuportável e por uma fortíssima sensação de perda, iminente e total, ponho a minha mão na sua. Por vezes não há finais felizes. Aconteça o que acontecer, irei sempre perder alguma coisa, alguém.
Mas talvez seja a isto que tudo se resume: ao amor, não como um surto de paixão, mas como uma escolha. A escolha de nos comprometermos com qualquer coisa, com alguém, quaisquer que sejam os obstáculos ou tentações que nos surjam pelo caminho. E talvez o facto de fazermos essa escolha, uma e outra vez, dia após dia, ano após ano, diga mais sobre o amor do que se nunca tivermos sequer a hipótese de escolha.
« - Ouve Ellie. Tu eras a tal… Tu és a tal… Se e que isso existe mesmo.
- Ok… - Limito-me a dizer.
- E então… o que pensas tu sobre isto? – diz ele. – O que é que tu queres?
- Acho que é melhor ir-me embora – digo, a resposta, desde sempre presente no meu coração, finalmente materializando-se na minha mente.
Volta a colocar a mão sobre a minha perna, desta vez com mais pressão.
- Ellen… não vás.
- Tenho que ir – declaro.
- Ligas-me quando lá chegares?
- Ligo – digo, pouco segura de vir a cumprir a promessa.
Aproxima-se de mim e diz o meu nome.
- Desculpa – digo. Forço um sorriso corajoso, sinto a visão a começar a toldar-se-me pelas lágrimas que a todo o custo tento conter. »
Exactamente como naquele nosso “voo”. Só que desta vez não choro, e não olho para trás.


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