1.03.2011

Horas perdidas


Já não desenho futuros, nem apago passados. Já não choro por quem partiu, nem sorrio por quem ficou. Já não corro contra o vento, não porque não queira, mas sim porque já não consigo fazer mais esforços, estou sem forças, sinto-me fraca.
“O número que tentou contactar, não se encontra disponível. Por favor, tente mais tarde! Obrigado”, já perdi a conta das vezes que tentei, das vezes que me sentia nostálgica e que apenas tu eras quem me conseguia retirar daquela escavação, profunda e regular, destinada a impedir-me ou a dificultar-me o acesso à felicidade, que existia dentro meu músculo da vida. Tantas vezes te liguei, enquanto chorava, para que me dissesses, com o teu sotaque sul-americano, “Olá Ellen, como estás?”, me ouvisses a soluçar de tanto choro, me sentisses a sufocar enquanto tentava dizer-te “Ainda te amo Andy!” e que visses, de longe, a dor que eu sinto dentro de mim. Mas em vez disso, tornaste-te incontactável e nem à correspondência respondes e eu queria somente uma resposta, só uma. Um sim ou não.
Não negues porque eu sei que mesmo passados todos estes anos, tal como eu, ainda não fui apagada totalmente, nem me arrumaste na gaveta do teu passado.
Eu sei que ainda sabes qual é a minha música favorita, que ainda te lembras do sítio para onde vou quando fujo dos meus medos e do livro que mais me marcou. Eu sei que ainda sabes qual é a minha cor favorita. E mesmo que não te lembres do primeiro beijo ou da data da nossa relação eu lembro-me e posso abrir-te a gaveta do passado ou do presente, dependentemente de onde queiras que ela esteja, guardo-a cuidadosamente, fecho-a com a chave da esperança e guardo-a na minha mesinha de cabeceira ao lado da nossa fotografia. Ainda te lembras da data do meu aniversário, do meu nome completo ou dos momentos que passaste comigo?
Não vou voltar a ligar-te, nem a escrever-te uma mensagem. Não vou ficar, mais vez nenhuma à chuva, na praia a escrever-te mais qualquer coisa, colocar dentro de uma garrafa de vidro azul e lança-la ao mar na esperança de que algum dia a leias, de que algum dia voltes.
Não vou correr mais contra a verdade. Vou sentar-me num cantinho qualquer e vou desesperar de tanto esperar. Mas eu estou aqui, eu espero. Vou ansiar pela tua chamada ou por uma simples mensagem. Vou atender ou ler, consoante o meio de contacto que utilizares. Vou sentir irrelevância se me disseres que tudo acabou e que já não sou nada para ti, que não me amas mas que ainda gostas muito de mim. E nesse dia, vou crescer por dentro e por fora, não vou chorar, vou somente enfraquecer. Não vou deixar de te amar, vou, simplesmente, gostar de ti do mesmo jeito que tu gostas de mim.