12.23.2010

Fernando Pessoa



"É preciso, sempre, saber quando uma etapa chega ao final.

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos de viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa os nomes que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Fomos despedidos do trabalho? Terminamos uma relação? Deixamos a casa dos pais? Partimos para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Podemos passar muito tempo a perguntar porque é que isso aconteceu. Podemos dizer para nós mesmos que não vamos dar mais um passo enquanto não entendermos as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas nas nossas vidas, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: os nossos pais, os nossos amigos, os nossos filhos, os nossos irmãos, todos estarão s encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que nós estamos parados.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem connosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que temos.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está a acontecer no nosso coração e nos desfazermos de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprendermo-nos.

Ninguém está a jogar nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não esperes que te devolvam algo, não esperes que te reconheçam esforço, que descubram o teu génio, que entendam o teu amor. Para de ligar a tua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como tu sofres com determinada perda: isso estará apenas e envenenar e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceites, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diz a ti próprio que o que passou, jamais voltará!
Lembra-te de que houve uma época em que podias viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na tua vida.
Fecha a porta, muda o disco, limpa a casa, sacode a poeira. Deixa de ser quem eras, e transforma-te em quem és. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és.

E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão"

1 comentário:

Diogo Passos disse...

A minha namorada é alta fã de literatura :')